Páginas: 87
À venda na Livraria Saraiva.
Minha primeira resenha
aqui no blog, gente! Que emoção! Sério, quase chorei quando fui convidada a
participar. A minha eleita foi a estimada, linda maravilhosa Clarice Lispector.
Espero que gostem!
Com a escrita peculiar
que lhe é comum – o que pode ser um fardo para os amantes de teens fictions –
“A hora da estrela” é a última e uma das obras mais famosas de Clarice. O
romance – integralmente narrado por Rodrigo S.M (alter ego da autora), que,
mesmo não sendo um narrador-personagem, entra na narrativa fazendo uso
constante da metalinguagem; introduzindo suas opiniões sobre si mesmo, as
personagens e a história. – conta a vida de Macabéa, uma moça órfã de aparência
nauseabunda (ok, exagerei), magra demais, feia, sem higiene e dotada de uma
ingênua ignorância que migra de Alagoas para o Rio de Janeiro em busca de
melhores condições de vida.
“Ninguém olhava para ela na
rua, ela era café frio.”
Chegando ao Rio, passa
a dividir um quarto com mais quatro colegas e a trabalhar (com orgulho) como
datilógrafa. Virgem de tudo o que se pode imaginar, conhece Olímpico, metalúrgico
rude e ambicioso que a destratava e almejava a ascensão financeira. Nesta parte
da narração, a bondade somada com a ignorância da protagonista chega ao ápice e,
particularmente, fiquei revoltada: mesmo diante de toda a palermice e estupidez
do namorado, que não era melhor do que ela, Macabéa reage se desculpando o
tempo todo aceitando tudo sem questionamentos por achar que revidar era “coisa
infernal”. Como não via em Macabéa chance de elevação, Olímpico a abandona para
ficar com a sua colega de trabalho Glória, filha do açougueiro.
Em sua relação com a
vida, Macabéa tentava vivê-la experimentando a sensação de dor e prazer que ela
traz e usando o batom vermelho que a fazia se sentir bonita, já que queria ser
estrela de cinema, assim como a Marylin Monroe. “Ela nada podia, mas seu sexo
exigia, como um nascido girassol num túmulo”, diz o narrador.
Incomodada por tomar
Olímpico para si, Glória dá dinheiro a confrade para ir à Madame Carlota prever
seu futuro que, com alguma sorte, havia de ser bom. A cartomante, - ALERTA DE
SPOILER! – a mostra o quanto sua vida é triste e desgraçada e fala sobre a
felicidade que viria do estrangeiro e sua vida mudaria a partir do momento em
que saísse do lugar onde estavam. Infelizmente, a vidência fora trocada com a
cliente que sucedeu Macabéa e esta, ao sair da casa da cartomante, é atropelada
por uma Mercedes-Bens.
“Então - ali deitada - teve uma úmida felicidade suprema,
pois ela nascera para o abraço da morte.
(...) E havia certa sensualidade no modo como se
encolhera. Ou é como a pré-morte se parece com a intensa ânsia sensual?
É que o rosto dela lembrava um esgar de desejo. (...)
Se iria morrer, na morte passava de virgem a mulher. Não,
não era morte, pois não a quero para a moça: só um atropelamento que não
significava sequer um desastre. Seu esforço de viver parecia uma coisa que se
nunca experimentara, virgem que era , ao menos intuíra, pois só agora entendia
que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser
mulher. Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor. Sim,
doloroso reflorescimento tão difícil que ela empregava nele o corpo e a outra
coisa que vós chamais de alma. (...)
Nesta hora exata, Macabéa sente um fundo enjôo de
estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo
luminoso. Estrela de mil pontas.
O que é que eu estou vendo agora é e que me assusta? Vejo
que ela vomitou um pouco de sangue, vasto espasmo, enfim o âmago tocando no
âmago: vitória!
E então - então o súbito grito
estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos
ares a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida
come a vida.”
Deitada e agonizante no asfalto, Macabéa é estrela e, pelo menos antes
do seu último suspiro, tem sua hora de “brilhar”.
Durante uma entrevista,
Clarice diz que “A hora da estrela é a história de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a
história não é isso, é sobre uma inocência pisada, de uma miséria
anônima." E, pelo menos pra mim,
essa pequena frase explica a moral do livro.
Para fazer com que essa
linda obra atingisse um público maior, surgiu a adaptação para as telinhas,
dirigida por Suzana Amaral e contando com a ilustre participação da diva
Fernanda Montenegro interpretando a cartomante Madame Carlota.
Para os marcianos interessados,
o filme está disponível no Youtube.
Beijos, Bea
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