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Stalkers de cidade grande

Pelo menos uma vez na vida, alguém já deve ter conhecido o famoso "romance de metrô". Sempre, ao entrar naquele vagão ou ônibus, há aquela mulher ou aquele homem que combina com todos os seus desejos, que te faz até esquecer o livro para congelar o seu olhar naquela pessoa, e por fim, lamentar-se por não ter feito nada para conhecê-la e esquecer disso minutos depois.
Imagem: Garry Knight

Se queremos ir adiante para conhecê-la, sempre fica no papel. São apenas planejamentos sem movimentos e ações, e mesmo se auto-motivando, não acontece nem 1%, até porque as ideias são sempre meio sem noção. Ao menos já tive ideias boas, como a de escrever um poema no estilo de haikai -- vai, ficou legal -- com o telefone no final, mas o papel está até hoje dentro da minha Moleskine.

Já nos anos atuais, a tecnologia e o ato de stalkear nos apresentaram algumas inovações para conhecermos pessoas nesse âmbito. Diferente dos métodos habituais de puxar papos como "hoje o clima tá estranho, né? Sempre chove nas terças" ou pedaços de papel com telefones e Facebook, você pode olhar para o celular da pessoa ao lado e coletar o máximo de informações que você puder. E eu sou o beta tester nisso tudo.

No exato momento em que o sol se escondia atrás dos Dois Irmãos, eu estava comemorando por estar sentado naquele ônibus infernal. Chegando em Copacabana, uma garota, que devia ter uns quatorze anos, entra no ônibus, e sem olhar para qualquer outro lugar, sentou-se ao meu lado. A partir daí, seus olhos grudaram em mim como chiclete. Quando não era em mim, era no meu celular enquanto eu estava no Twitter, e com o Windows Phone na época, era fácil de ler qualquer coisa, mesmo estando longe.

Lá pra Ipanema, isto se prolongou. Já estava me irritando um pouco, mas o que eu poderia fazer? Devia era arcar com aquilo, como se não houvesse nada de anormal, no entanto, estava acontecendo com tanta frequência que eu já estava começando a me preocupar. Em São Conrado, o andar da carruagem mudou por completo: de relance, olhei em direção ao celular dela e vi uma notificação do WhatsApp, com o meu username do Twitter.

Assim como achei engraçado e inacreditável, fiquei em choque. A sensação de ter a privacidade violada depois de você ter respondido algumas mentions era enorme, e mais: com o "brunogdb", você vê meus trabalhos facilmente, o que não é ruim, pois ganho mais um leitor dos meus textos e alguém para ver minhas fotos.

Continuo mantendo a preocupação, mesmo que de leve já nos dias atuais. Ao pegar aquela linha, me pego gargalhando internamente e, também, pensando se apareceria alguma coisa no futuro, uma vez que, quase um mês depois do ocorrido, nenhuma mention anormal surgiu. E espero que se mantenha assim, para sempre.

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