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Me add no whatsapp?

Outro dia, estava no ônibus do Rio para Niterói quando sentou um menino bonitão do meu lado. O trajeto duraria, normalmente, 30 minutos, mas o trânsito fez durar mais. A bateria do meu celular acabou, eu estava sem livro pra ler… acabei por… dar aquela espichada de olho no que o menino tanto cutucava no touch do seu celular. Ele tava numa janela do Whatspapp com uma menina, a tela ainda branca, mostrando que a conversa entre os dois tinha se iniciado por ali.
Ok, me distraí na paisagem e, quando olhei de novo, a foto da menina era outra, mais uma janela de conversa ainda por começar. Ele respondeu algo rápido. Fechou, foi para aquela lista de conversas, só fotos de meninas. Rolou a barra com o dedo, ia abrindo conversa, mandando algo, fechando, partindo pra outra conversa. Nessa, contei umas 15 conversas diferentes.
Fiquei impressionada com a capacidade do cérebro desse cara. Como ele consegue guardar os nomes, o que falou, com qual já saiu, qual já deu uns pegas mais fortes? Fiquei pensando na minha dificuldade de guardar, na minha pesquisa de mestrado, quais interlocutores eu já entrevistei por email, quais já entrevistei ao vivo, etc. Quando trabalhava como assessora de imprensa então, pior ainda. Tinha que fazer uma tabela de “follow” para saber com qual jornalista já tinha falado, o que ele tinha respondido…
Agora, este rapaz, numa viagem de 1h30 conversou com 15 meninas diferentes. Se não fosse expor minha loucura, teria perguntado se existe alguma técnica para coordenar tantos assuntos, tantos contatos. E a agenda? Esse menino consegue encaixar tanta pretendente assim em 1 mês, pelo menos, pra conseguir efetivamente sair com alguma delas?
Mas aí é erro meu de julgamento. Nem sempre as pessoas querem sair com os papos de whatsapp. Algum amigo antropólogo do ciberespaço precisa estudar esse fenômeno! Estou deveras impregnada com essa questão no plano pessoal para estuda-la. Mas fica aí essa dica.
menos whatsapp
Todo dia ouço histórias de relações que acontecem só no Whatsapp, Tinder ou chat do Facebook. Uma moça comentou toda orgulhosa que estava falando com uns 6 caras no Tinder. Os papos iam ficando mais animados, duravam meses. Aí perguntei, na minha inocência, se já tinha ficado com algum. Não, nem tinham se encontrado. Com nenhum dos seis. Mas a onda dela não era essa, era cortejar e ser cortejada.
Fui contar para um amigo o caso do menino do ônibus e ele não viu surpresa. “Eu faço isso direto. Na maior parte das vezes, nem rola nada demais, ou só uma vez… Isso irrita umas, que passam a ficar chatas”. Eu comentei que achava que ficaria igualmente chata na situação e perguntei se ele me achava chata. “Não, po!”. Mas isso é porque ele é meu amigo de beber cerveja no bar. Respondi que quem semeia vento, colhe tempestade. Mas ele não entendeu minha piadinha.
Embora eu tenha sempre vivido conectada em canais de comunicação online desde que meu pai colocou internet discada lá em casa, e tenha tido inúmeros amigos virtuais, eu prefiro sempre as conversas ao vivo. A agência da máquina não funciona bem comigo para relações interpessoais. Ou seja, as características dos programas de chat, as redes sociais, desse tipo de comunicação, podem ajudar a aumentar os casos de mal entendidos, interpretações errôneas.
Eu sou verborrágica nonsense quando escrevo por escrever. Escrever é o meu ganha-pão e, nesses casos, ele é super bem treinado para ficar controladinho. Mas, ao mesmo tempo, na vida normal, escrever é meu lado mais subjetivo saindo sem controle, sem o controle do superego. Uma Clarice Lispector menos talentosa do Whatsapp. Já imaginaram o estrago?
Além disso, todo o aparato para a paranoia que eles criam, como os dois tiques azuis do Whatsapp, só colocam lenha na fogueira. Acabam por dar margem para lados seus que nem sempre aparecem no dia a dia virem à tona. Só serve para semear a discórdia.
Falando ao vivo, a linguagem verbal não é a única forma de comunicação que temos. Vai além dos emojis (que também carregam 20 mil interpretações), das mensagens de voz. A conversa flui sem intervalos estranhos, no tempo do encontro. Se o assunto não render, provavelmente mais nada vai render depois, então ninguém perde seu tempo com papinho. Ninguém semeia vento, nem colhe tempestade.
Mas essa é minha opinião pessoal, cada um com seus usos, como diria meu eu-antropóloga. No mais, queria apenas pedir desculpas para todos que foram inundados pela minha verborragia. Não fui eu, foi meu eu-whatsappiano. Meu eu-materializado é bem mais de boa!
                                BEIJOS,LAURA

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