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De caçador de morcegos ao seu amor pelos gatos


Era uma quarta-feira habitual enquanto eu ia em direção ao Maracanã. Ele estava novo em folha, tinha acabado de ser inaugurado, e o Fluminense ia jogar com não sei quem e nem lembro se ganhou um perdeu, mas sei que a partida havia começado. De todos os lados, via-se torcedores fanáticos gritando, e isso me deu uma baita fome, e não só a mim, como a quem me acompanhava também. Seguindo a Rua São Francisco Xavier, fui à Da Vinci, uma pequena pizzaria vizinha do Colégio Pedro II.

Após a comilança, pizzas, refrigerantes e esposa gritando "aonde vocês estão?" pelo telefone, era hora de partir. Pagamos a conta e fomos em direção à Estação São Francisco Xavier, da linha 1 do metrô, para irmos ao Largo do Machado ou decidir se pegávamos um táxi. A segundo opção prevaleceu já que era quase 00h e sinceramente, eu não queria perder minha vida na Rua do Catete.

Entrando no táxi, um senhor nos atendia dando boa noite. Contamos nosso trajeto, e tudo começou a fluir, enquanto andava pela já deserta Heitor Beltrão. Durante a viagem, a conversa comia solta, e como de costume, ao nos ver com camisa do Fluminense sabendo que tinha jogo naquele dia,  ele estava querendo saber do jogo, e contamos.

Descendo (e subindo) a Rua Barão de Itapagipe, o papo havia tomado outro rumo. Estávamos já falando de bairros do Rio, e este senhor nos contava que morava lá pra Santa Alexandrina enquanto moleque, praticamente no túnel Rebouças, nas épocas áureas do Rio Comprido. Ainda assim, após um morcego nos dar um rasante no carro e quase carregá-lo, uma perola é solta no carro:

 Quando criança, eu adorava caçar morcego.

Enquanto dizia (e nos assustava), ele explicava suas técnicas como um profissional. Segundo ele, para caçar um morcego, era necessário um bambu para fazer um som que o atraia e algo para bater nele e atordoá-lo, e aí, finalmente, capturá-lo. Não contente com sua explicação, o mesmo, enquanto afundava o pé no acelerador, soltava o volante, ainda subindo a Barão, e nos mostrava como ele devia girar o bambu para fazer o barulho para atrair os mamíferos voadores. Isso sem um dedo ou pé no volante.

Por sorte, o papo havia mudado de rumo, mas não voltou à total normalidade. Estávamos calados enquanto ele insistia em conversar. Falava sobre gatos, felinos, aqueles bichos fofos, peludos, e que nos olham com cara de "vem, escravo". Ele declarava seu amor pelos gatos, e ainda contava:

 Uma vez, uma mulher me mandou colocar o gato pra correr, mas eu fui e coloquei ela pra correr.

Ok, isso não foi tão desesperador. Estranho mesmo foi ouvi-lo dizendo que esta não foi a primeira a ser expulsa por isso, e detalhe: ele jogou as roupas dela na rua.

Com benção de Santa Bárbara, atravessamos o túnel ileso, inclusive naquela maldita subida do elevado, que ao passar ali, com uma falha, todo e qualquer carro praticamente pode perder o controle com uma extrema facilmente se vier em alta velocidade. O incrível é que dali, depois de pagarmos e irmos em direção ao portão do prédio, ele saiu varado, correndo, e desapareceu em questão de segundos, sumindo igual a um gato num gramado.

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