Mas tem pior. A frieza das pessoas entre 08h às 18h é algo de te fazer querer subir pelas paredes, principalmente na maior guerra do cenário urbano, o que gosto de chamar de "Guerra das Assentos". Não duvido que algum dia matariam alguém só para pegar um lugar para ir sentado no metrô, como já aconteceu de eu ser agredido por ser o primeiro da "fila". Mal eles sabem que esta energia caótica que eles geram, contamina o local e fica impregnado nas placas de aço dos vagões, e não somente no transporte público, como em tudo ao seu redor.
Ao entrar no metrô, o sentimento era de cansaço após ver aquelas caras tristes de sempre, mas algo estava diferente, e não era o horário de almoço com lugares vazios. Sentando num banco enquanto o meu celular me consolava, uma felicidade repentina atravessava o meu peito até eu me dar conta de onde vinha. Era uma mulher sentada na minha frente, que ao observá-la, sorria enquanto lia. Cheguei a pensar depois que ela estava era rindo da minha cara por eu estar com olhos fixados nela por um tempo, mas sentia que não era nada disso. Era um sorriso sincero, de felicidade, de uma pessoa que sabe gozar das coisas boas da vida, e era claro que sua alegria se espalhava para os outros.
Chegando na Central do Brasil, no banco ao lado do meu, senta uma criança e uma mulher, que devia ser a mãe. O menino devia ter cinco seis anos e estava totalmente entretido no livro infantil que era três vezes maior que ele, e talvez o livro grande tampando a cara dele que tenha inspirado a brincadeira dela.
Da criança, via-se apenas sorrisos, e todos gerados por ela. Enquanto ela estudava, lia, sei lá que livro era aquele, ela parava para brincar de esconder o seu rosto atrás do seu livro e fazia caretas enquanto a criança se deliciava no riso e gargalhada e ainda respondia escondendo sua cara atrás do livro. Isto se repetia inúmeras vezes, e não somente ela mexeu com o garoto, como o senhor ao lado dela, que ao pé da história toda, participou bem pouco.
Isto durou da Central do Brasil até São Cristóvão, quando ela se preparava para saltar na estação seguinte. Mal eu imaginava que ela fosse fazer algo a mais, pois eu já não conseguia imaginar mais nada que ela pudesse fazer. Pois é, ela fez.
Enrolando um pano em sua cabeça, ela continuou escondendo o rosto, mas agora com o pano e gestos teatrais. Andando com passos de tartaruga, aproximava-se da criança com uma maça na mão e fazendo caras e bocas para o menino. Ao redor do vagão, apenas atentava-se os olhos e risos de quem via, mas não era riso de deboche. Era de gente incrédula de ver ela fazendo aquilo, e ao mesmo tempo, achando aquilo a coisa mais legal do mundo. Foram atos tão bem feitos que até a sua saída do vagão foi teatral, deixando um ar de mistério.
É um caso raro ver alguém que perca - aliás, isto é mais um ganho que qualquer outra coisa - um pouco do seu tempo ou dia para fazer alguém sorrir. Nas cidades, somos frios demais e o egoismo é o que toma nossas cabeças. Isto está fixado em todas as paredes de concreto e roupas sociais que vemos na Av. Rio Branco e em qualquer outra rua, enquanto suas cabeças fixam em problemas e mais problemas que deviam ter sido esquecidas na mesa do escritório. É nessas horas, vendo coisas como o que ela fez, que você para, pensa e percebe que a humanidade tem jeito sim. Basta apenas querer e se esforçar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário