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Ela é sempre primavera.

Quando começa um dia? No primeiro minuto após as doze badaladas? Quando o sol nasce? Quando você acorda? Bem, o meu dia começa quando ela aparece. Pode ser às quatro da tarde ou às dez da noite, não importa. Um dia sem notícias dela é um dia em vão, nulo, esquecido e apagado. Demora como uma eternidade.
Nos dias de sol ela parece ter oito anos.
Pula, brinca e sorri como uma menininha do maternal, longe de toda maldade e preocupação do mundo. Nos dias de TPM parece ser uma senhora de oitenta e três anos com tendências vampirísticas – foge de qualquer claridade e se emputece com qualquer ruído mínimo que possa entrar em sua cabeça como uma bomba relógio.
Ela é morena, tinha cabelos negros curtos que eu adorava. Ama os felinos e tem a pele branca como uma folha de papel virgem. Queria escrever poesias nela – daquelas com rimas bonitas e frases bem encaixadas. Poetas passariam anos tentando encontrar a melhor maneira de descrevê-la. Ela me lembra a Winona Ryder, naquele filme Garota Interrompida. Espero que ela não tente se matar. Nem me matar, também. Mas talento para a loucura ela tem.
Canta suas frases felizes quando tem vontade. E se cala como uma pedra muda quando tem vontade, também.
Ela veste tênis geralmente. Mas mesmo assim consegue ser meiga e doce. Cerveja é seu suco predileto e sente fome quando está alcoolizada. Dança num ritmo que ela mesma inventou. Errado são outros. O Carlinhos de Jesus, a Ana Botafogo e os bailarinos russos. Vai ver, ela inaugurou a dança e ninguém soube disso.
Escolhe a cor da caneca do chá de acordo com o clima. Cada caneca tem sua função específica neste mundo. E se o ano tem quatro estações, ela é sempre primavera. Ama as flores como se fossem suas filhas e faz da natureza sua mãe mais sagrada.
Em um único parágrafo – ou em cinco minutos de conversa – diz quatrocentos assuntos diferentes. Sem pontos, vírgulas ou pausas. Às vezes, eu me sinto burro, com dezesseis anos de idade assistindo à uma aula de revisão de química – aquelas na qual a gente pisca o olho e o quadro negro já está lotado de fórmulas esquisitas. Queria ser químico para entender algumas coisas sobre ela. Ou psicólogo, não sei.
Mesmo assim, ela é divertida como nenhuma outra. Me faz sorrir sem esforço algum – apenas sendo como ela é, sem maquiagens, encenações ou algo assim. Ela encanta sem saber e sem querer. Anda de skate como quem esta aprendendo a passear sobre as nuvens e me conta animada sobre cada nova experiência aprendida. Até assiste futebol e lutas. Mas prefere How I Met Your Mother, Mallu Magalhães, cerveja, decoração, primeiros capítulos das novelas e café.
Ela é leonina, daquelas que têm orgulho dos seu signo. Mas não segue à risca das dicas do horóscopo. Tem uma queda por um meditações e ensinamentos indianos. Queria saber o que ela enxerga toda vez que fecha os olhos e viaja pelo mundo. Vez em quando, quero ser telepata, também.
É difícil e odeia falar ao telefone – pode soar grosseira nessas ocasiões. Costuma ter insônias quando está ansiosa, mas diz que não pensa em mim nesses momentos.
Ela não irá aceitar casar com você de primeira. Nem na segunda tentativa. Talvez, nem no quinquagésimo oitavo pedido. Mas se eu fosse você, insistia. Ela desconversará com risos em caixa alta e embora não diga “sim”, percebo que o sorriso dela vale mais do que essas três letrinhas quaisquer.
Meus dias terminam quando ela se despede.

{reblogado}
Texto por Hugo Rodrigues.

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