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Feministas de internet, sim! Onde mais nós estaríamos?

Somos “feministas de internet” simplesmente porque somos a geração da internet. O palanque é

a web, mas os efeitos são extremamente reais."

É curioso como, pra desmerecer alguém e vencer uma discussão, às vezes as pessoas perdem até o 

contato com a realidade. Não preciso reforçar pra nenhum dos leitores do youPIX a importância da 

Internet – a própria existência desse portal assinala o quanto a cultura da rede é grande, poderosa e 
particular, sendo necessários sites como este para explicar a natureza dos fenômenos que surgem na
rede a todo momento.Tudo acontece tão rápido que, se a gente passa uma semana offline, já ficamos por fora de assuntos e piadas que se tornam tema de conversas do mundo real. Não existe novela hoje em dia que seja capaz de, sozinha, lançar um bordão como “Meu óculos, ninguém sai“.

Entretanto, o poder da web vai muito além da cultura pop. As primaveras revolucionárias que 

derrubaram ditaduras no mundo árabe começaram nas redes sociais e, independentemente dos 

objetivos ou resultados alcançados, as maiores manifestações populares do Brasil em mais de 20 anos 
também tiveram início nelas.


E eis que um dos assuntos mais falados na rede em 2014 foi o tal do feminismo. Em todo lugar, com uma impressionante regularidade, pipocaram assuntos relacionados ao tema e 

movimentos de resistência a opressões que, antes, passavam despercebidas. O feminismo não 
é nenhuma novidade, mas definitivamente se popularizou e, como tudo o que faz sucesso, também
 recebeu duras críticas – nada de novo por aqui também.Que parte dos homens não ia gostar era óbvio. O feminismo se baseia na conquista de privilégios que antes eram exclusivos ao sexo masculino e abrir mão dessa posição de poder é dolorido para eles. Mas eles souberam muito bem como transformar essa dor em violência e silenciamentotornando nossa luta um tanto mais desafiadora.

Por outro lado, o feminismo também não é uma instituição rígida e definida – é um movimento em




 constante construção e cujas correntes chegam a ser absolutamente divergentes em aspectos 

fundamentais, embora todas lutem pela conquista de direitos das mulheres. Por isso, quando ele se
 torna o centro das atenções, muitas feministas questionam a validade dessa popularidade e outras 
minimizam a relevância das chamadas “feministas de internet” – uma maneira pejorativa para se 
referir às mulheres que fazem da web o seu palanque.

Nós, do Think Olga, podemos vestir essa carapuça com toda força. Afinal, somos um portal 

~VIRTUAL~ voltado para a discussão do que é ser mulher nos dias de hoje sob esse viés. 

Podemos afirmar, com muito orgulho, que todas as nossas iniciativas sugiram primeiro em formato
 de pixel, mas também que já fomos muito além disso.

Quando lançamos a campanha Chega de Fiu Fiu, pouco se discutia sobre o assédio sexual, 

comportamento tão tolerado pela sociedade e, ainda hoje, entendido como algo normal por algumas 

pessoas. Ao realizarmos uma busca no Google por “assédio sexual locais públicos” antes do 
lançamento, somente retornavam resultados sobre assédio no local de trabalho, o único que possui 
leis específicas no Brasil (por enquanto).

A adesão das mulheres à campanha foi imensa e a Chega de Fiu Fiu não apenas cresceu e ganhou um 

mapa colaborativo este ano, como foi fundamental para disseminar a ideia de que cantada não é algo 

normal. Hoje, existem várias 
iniciativas do mesmo gênero e até mesmo prefeituras lançaram campanhas próprias contra o assédio em 
locais públicos, 
com as de
 Curitiba (PR)Mundo Novo (MS)Limeira (SP)Campinas (SP)Distrito FederalJoinville (SC)
entre outras, educando suas populações em relação ao absurdo normalizado que é o assédio sofrido
 por mulheres nas ruas.

Até onde isso é influência nossa e até onde isso é uma grande coincidência do tipo 

já-havia-várias-tecnologias-similares-uma-hora-ou-outra-alguém-ia-inventar-o-avião, não podemos 

afirmar ao certo. Mas sabemos que a campanha
teve grande impacto e trouxe mudanças reais. A comunidade virtual que se reuniu em volta do tema 
é uma prova de que, mesmo 
separadas fisicamente, somos hoje um grupo grande de mulheres que não tolera mais esse tipo de 
violência.

Outro desdobramento da Chega de Fiu Fiu foi uma parceria do Think Olga com a Defensoria 

Pública de São Paulo, com a qual desenvolvemos um folder explicativo sobre o que é o assédio e como 

se defender dele. O material foi distribuído gratuitamente no estado e também está disponível 
para ser impresso, levando a informação para muitas pessoas do 
mundo real. Se tudo der certo (e contamos com a sua ajuda), a campanha também vai virar um 
documentário para ajudar a disseminar ainda mais informações que alertam contra esse tipo de 
violência.

Esses exemplos são apenas da nossa experiência no Think Olga, de uma das muitas ações em que 

nos envolvemos este ano, mas existem diversos outros que mostram o efeito que as feministas da 

internet podem causar na  vida real. É o caso do pick-up artist Julien Blanc, que ensinava técnicas 
de agressão disfarçadas de ~arte da pegação~, e foi banido de palestrar em diversos países, 
incluindo o Brasil, após inúmeras assinaturas… virtuais.

Estamos na internet porque toda a nossa vida está na internet. Nossa família, amigos, o banco, o 

trabalho, as lojas, os serviços, o lazer, as ideias. Passamos horas e mais horas conectados, a web é 

uma extensão da nossa existência no mundo real, estamos em pleno século XXI, porque o 
feminismo ficaria fora dessa? Somos feministas de internet simplesmente porque somos a geração 
da internet. Junte-se a nós e 2015 que nos aguarde.


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